Por Ronaldo Behrens, especializado em Direito de Saúde, do escritório Portugal Vilela Almeida Behrens, LEXNET Belo Horizonte
Medicina do futuro: o que esperar?
Muitos debates são promovidos em torno da tecnologia no sistema de saúde. Imaginam-se muitas inovações e, talvez, nunca antes tenhamos nos deparado com uma escalada tão grande do conhecimento em torno da saúde. Estatísticas mostram que o ser humano tem se beneficiado de uma maneira geral: vivemos cada vez mais e com melhor qualidade, a cura para várias doenças estão sendo descobertas, aumentamos o nosso acesso aos serviços de saúde, entre outros ganhos. Novidades não param de chegar. Mas a minha reflexão é: o que esperarmos da medicina do futuro?
Imaginando que a sobrevivência não seja um fim em si mesmo, pois parece bizarro querer somente respirar, o homem acredita na tese de que as pessoas são seres relacionais e que existir vincula-se a interagir e a viver em coletividade. Baseados nisso, poderíamos inferir que prolongar a nossa consciência e discernimento, autonomia de locomoção e capacidade de nos expressar seriam pontos essenciais para o propósito relacional. Nisso, a medicina tem muito a contribuir, pois tem conseguido antecipar cada vez mais os problemas que teremos no futuro.
Hoje, a ciência tem, numa velocidade exponencialmente crescente, informações e conhecimentos sobre a saúde do ser humano, haja vista os anúncios que têm surgido da Inteligência Artificial. Atualmente, é possível analisar qualquer problema frente a um banco de dados de dimensões estratosféricas, podendo programar um tratamento mais direcionado, personalizado e assertivo. Ainda mais: a tecnologia está à disposição da saúde, seja para uma prática segura da telessaúde, aumentando em escala global o acesso aos profissionais a partir de qualquer lugar do planeta, seja pelos exames especializados de sequenciamento de DNA, ou mesmo pela robótica que já invadiu todos os hospitais.
É certo que os profissionais de saúde, num curto espaço de tempo, sairão da posição de únicos detentores do conhecimento e assumirão um papel de analistas e facilitadores de decisão, ao lado do paciente (principal interessado), a partir de análises feitas por um software que terá capacidade de leitura e interpretação de dados infinitamente maior do que o nosso cérebro. Futuristas como o inigualável Gil Giardelli professam que a tecnologia (de forma geral) vem para liberar tempo do homem que terá como desafio escolher o que fazer com este tempo ocioso. Enfim, teremos mais tempo livre, mais saúde, mais qualidade de vida, já que poderemos prever nosso futuro e nos preparar para ele em termos de saúde.
Diante dessa análise, volto a questionar: o que esperarmos da medicina do futuro? Nada disso será funcional se as diversas instâncias da saúde, tanto pública quanto privada, não conduzirem de forma humana esse contexto. Mesmo com a tecnologia antecipando situações, possibilitando tratamentos e chances de curas, mesmo com tantos recursos a favor da vida, a autonomia do paciente deve ser respeitada. A medicina do futuro precisa não ser apenas robotizada, mas também humanizada.