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Por Gustavo Zimmermann, consultor da LEXNET
Projeto LEXNET 2018 – Indústria 4.0: Conceitos e Principais Impactos
Duas vertentes de assuntos correlacionados às mudanças porque passa o Direito no Brasil receberam atenção na série de artigos apresentados neste espaço da Newsletter da LEXNET. A primeira tratou das mudanças na estrutura da atividade advocatícia provocadas por fatores do próprio mundo jurídico e a seguir foram tratadas as mudanças que já estão sendo ou serão induzidas pelas novas tecnologias digitais.
No artigo de hoje apresentamos uma compilação das informações constantes em diversos artigos dedicados à indústria 4.0, e a próxima e inevitável inovação industrial no mundo. Usamos como fontes o caderno especial dedicado aos negócios conectados editado pelo jornal Valor Econômico de 29/06/2018, a Edição Especial da Revista Exame de 30/05/2018 e o estudo da Confederação Nacional da Industria – CNI “Industria 2027 – Riscos e oportunidades do Brasil diante de inovações disruptivas”.
Nosso intuito, é mostrar como as novas tecnologias digitais interagem na indústria e seus principais desdobramentos na sociedade e na seara jurídica.
Preliminarmente, porém, deixemos assentado que, o termo Indústria 4.0 diz respeito a utilização intensa e integrada num único sistema nos processos produtivos com máquinas às quais foram adicionadas inteligência artificial/ machine learning que são os robôs.
Por sua vez, esses robôs operam em tempo real com uma série de novos recursos proporcionados pela digitalização crescente de dados, pelo uso da computação quântica, dos big datas, da nuvem, da realidade aumentada, da internet das coisas, da impressão 3D etc. aplicados tanto ao “chão da fábrica” (logística interna, estoques, suprimento, distribuição, manutenção preditiva, linhas de produção e de montagem, recebimento, controle de qualidade, almoxarifado) quanto aos processos administrativos (financeiro, fiscal, RH, compras, jurídico).
Mais apropriadamente, portanto, a quarta revolução industrial é a utilização, cada vez mais intensa, desse conjunto de tecnologias associadas aos processos produtivos e administrativos provocando expressivas e disruptivas mudanças sociais e nos aparelhos produtivos.
Essa marcha tem se dado num cenário internacional de aumento dos custos da mão de obra não qualificada nos mercados secundários (notadamente na Ásia), e de custos assemelhados da mão de obra qualificada tanto nos mercados mais desenvolvidos quanto nos menos desenvolvidos.
A mão de obra qualificada é a utilizada para corrigir os bugs do sistema de robôs, aprimorar suas operações e readaptá-los às tendências captadas por eles próprios através de suas inteligências artificiais.
A essa marcha e conjuntura se somam os preços discreta e tendencialmente crescentes do petróleo e os também cada vez maiores custos provocados pelas restrições encarecedoras às emissões poluidoras dos motores movidos a combustíveis fósseis. Entre outras, essas duas forças tornaram a curva dos custos de transportes ascendente no longo prazo e estão provocando os seguintes principais impactos:
- A soma dos custos crescentes dos transportes com os da mão de obra não qualificada nos mercados secundários e dos custos generalizadamente semelhantes da mão de obra qualificada nos mercados de primeira linha, tem aumentado o número de plantas fabris que tem se deslocado para mais perto de seus mercados consumidores, num movimento chamado Reshoring que é o retorno das fabricas aos centros mais perto de seus consumidores;
- Os sistemas de robôs inteligentes em operação têm diminuído o tamanho dos lotes econômicos de produção (quantidade mínima a ser produzida para gerar a taxa de lucro esperada) e conferido inéditas flexibilidades às linhas de produção e o tempo de desenvolvimento dos produtos novos (tempo para a concepção de um novo produto até sua disponibilização para venda no ao varejo) de meses para semanas, revolucionando as cadeias de suprimentos e de distribuição. Apenas como ilustração, na produção dos tênis Adidas, nos mercados de primeira linha, a queda do lote econômico de produção foi de 50.000 para 500 pares e o tempo de desenvolvimento de novos produtos caiu de 18 para 1 semana e as novas metas são de dias e horas;
- O sistema de robôs inteligentes, progressivamente alimentado pelo aumento da digitalização de dados, tem, cada vez mais, generalizado adoção da Speedfactory que é personalização dos produtos através da captação dos hábitos e necessidades de consumo dos clientes consumidores (como no caso da indústria calçadista, o tamanho e altura do pés, a forma de pisar e andar, as preferências por materiais, moldes, cores, estilos etc);
- A queda persistente dos preços dos robôs em dólares de 67.000 em 2005, para 31.000 em 2015 e a projetada para 25.000 em 2025, aliada às forças atuantes no cenário atual, estão incentivando cada vez mais o deslocamento de plantas fabris para os mercados dos países mais desenvolvidos (reshoring/ speedfactory).
Contra essa démarche dos mercados de segunda linha para os de primeira linha, o governo chinês lançou o programa “Made in China/2025” para assegurar a produção industrial por lá.
O padrão da automação com mão de obra barata está em extinção.Esqueçam o raciocínio da busca no uso de mão de obra barata e os sistemas de montagens manuais, com centro fabril automatizado e qualidade assegurada, todos países precisarão se mexer nos próximos 5 anos na direção da indústria 4.0.
Christopher Podgorski, presidente da Scania do Brasil e América Latina, tem a missão de preparar a fabrica de São Bernardo para não depender mais de combustíveis fósseis, condenados tanto pelos preços tendencialmente crescentes, quanto pelas progressivas restrições aos seus usos. Cada modelo Scania, vendido em qualquer parte do mundo, poderá funcionar com diferentes tipos de energias renováveis, biodiesel, bioetanol, gás, biometano (produzido através de dejetos) ou eletricidade.
A Scania terá veículos preparados para todos tipos de energia não fóssil, pois a solução elétrica não compete com o biodiesel, bioetanol ou gás. A Scania assumiu o compromisso de reduzir pela metade até 2025 suas pegadas de carbono “Essa é a beleza da produção global” afirma Podgorski.
A renovação acaba de ser concluída na Europa e agora é a vez o Brasil, porque 70% de sua produção é exportada para diferentes continentes. O investimento total será de R$2,6 bilhões até 2020 na unidade do ABC paulista, sendo que R$ 1,6 bilhão já está sendo investido neste ano de 2018.
Joe Kaeser, presidente do conselho de administração e presidente mundial do conglomerado alemão da Siemens e conselheiro informal da chanceler Angela Merkel, anunciou investimento de 1 bilhão de euros no Brasil no próximo quinquênio incluindo, dentre outras, as tecnologias da 4ª revolução industrial. Para ele, o Brasil poderá, rapidamente, se beneficiar das novas tecnologias para dar um salto na produtividade, até porque, não é preciso ter um parque industrial 3.0 para receber os benefícios da indústria 4.0.
A boa notícia é que muitas empresas multinacionais sabem como aplicar as tecnologias da indústria 4.0. Todas trarão muitos e importantes conhecimentos para esse salto e o Brasil já tem um sistema de aprendizagem industrial capaz de dar suporte inicial para esse processo de transformação. Necessitará porem ampliá-lo racionalmente conforme se apresente a demanda por mão de obra adequadamente qualificada.
O setor automotivo é um dos que saíram na frente dessa transformação. Na fábrica 4.0 de caminhões Mercedes Benz no ABC paulista, a robotização das linhas de montagem reduziu o tempo de produção em 15%, tornou a logística 20% mais eficiente e o armazenamento de componentes caiu de 10 para 3 dias, aumentando a eficiência e diminuindo custos de produção.
Matéria da jornalista Marta Funke, publicada no Jornal Valor Econômico de 29/07/2018 informa que a Thyssenkrupp, a mineradora Kinross e Coca Cola também investiram expressivamente na direção 4.0.
Na marcha em direção à sociedade 4.0 (a da robotização) Robson Xavier, empresário, presidente do sindicato das empresas de TI e conselheiro do I9 Uberlândia, nos dá uma ideia do que está entrando no nosso cenário. Em artigo, ele informa que “Um novo assistente de inteligência artificial de um grande fabricante de tecnologia já pode atender e responder 70% da comunicação dos clientes de um escritório por meio de telefone, e-mail, chat e redes sociais. Este sistema faz o primeiro atendimento com o cliente, marca reuniões, dá informações processuais e responde questões diversas, de acordo com a especialidade do escritório, minera sentenças, pareceres e teses em milhares de documentos e ainda apresenta perspectivas de resultados práticos, em segundos com alta precisão”.
Novos assistentes dotados de inteligência artificial dessa estirpe apontam significativos impactos nas práticas advocatícias!