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Um elo fundamental

Por: Bernardo Portugal.

Desde que entrou no ar, no final de 2007, até agosto do ano passado, quando encerrou seu período de investimento, o site do fundo de Capital Semente Criatec – fundado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (Bndes) e gerido pela Antera Gestão de Recursos e Grupo Instituto Inovação – recebeu cerca de 1,8 mil projetos de empreendedores. Desse total, 36 foram investidos com aportes de R$ 1,5 milhão. “Quando iniciamos o fundo, não tínhamos a expectativa de receber toda essa demanda. Existe muita necessidade de Capital Semente no país”, afirma Robert Binder, sócio da Antera e coordenador do comitê de empreendedorismo inovação e capital semente da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (Abvcap).

O número de propostas recebidas pelo Criatec é um indicador do espaço que ainda existe para o Capital Semente no Brasil. Tão jovem quanto as próprias empresas que financia, esse setor começou a se desenvolver a partir da década de 2000 no país e ainda enfrenta desafios para se consolidar. De acordo com especialistas, existem lacunas na cadeia de capital de risco que precisam ser preenchidas. Também é preciso atrair mais investidores privados para o Seed Money e ainda não foi formado um track record: um histórico de desempenho das empresas investidas por capital semente.

Não existe um marco inicial do nascimento da indústria de Seed Money no país. Mas foi por volta da década de 2000 que fundos especializados na área começaram a aparecer: a mineira FIR Capital, por exemplo, começou a operar em 1999, com foco nesse tipo de capital. Em 2005, surgiram a Antera, de Binder, e a também mineira Confrapar. Um ano depois, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) realizou a primeira chamada do programa Inovar Semente e, em 2007, surgiu o Criatec, o maior fundo de capital semente do país. Existem, também, outras gestoras que mantêm foco em Capital Semente no país, como a Performa e a Jardim Botânico Investimentos, entre outras. Todas criadas depois de 2000.

Nesses últimos anos, o apoio governamental tem sido forte no incentivo ao desenvolvimento do Capital Semente. A Finep, por meio do Inovar Semente, já aprovou a criação de sete fundos de Seed Money e, no final de maio, realizou a 12ª edição do Seed Forum, um evento no qual empreendedores têm a oportunidade de se capacitar e apresentar seus projetos a investidores. Neste ano, a Financiadora planeja lançar mais uma chamada do programa Inovar Semente. Já o Bndes, por meio do Criatec, realizou investimentos em 36 empresas, sendo que oito delas receberam uma segunda rodada de recursos. O Banco irá lançar, no segundo semestre deste ano, o Criatec 2 – e já existem planos para o surgimento do Criatec 3.

“Como ocorreu em todos os países que já possuem uma cadeia de capital semente estruturada, o papel do governo é fundamental no início. Nesse ramo, há maior risco. E, hoje no Brasil ainda existe, por parte dos investidores, muito temor a isso, fruto do conforto com as taxas de juros acima de 10%”, analisa Bernardo Portugal, sócio-fundador e diretor de investimentos da Confrapar e membro do Conselho Deliberativo da Abvcap. A ideia é que o governo, por meio de suas ações, consiga atrair investidores privados para o ramo. “É importante que essas iniciativas sejam bem-sucedidas, para que fique demonstrado que se trata de uma atividade importante, legítima e lucrativa”, explica Binder.

Formação da cadeia

Atrair investidores privados é justamente um dos focos da Finep. “Por meio do Inovar Semente e do Seed Forum, queremos fazer com que os investidores privados se aproximem das empresas inovadoras”, explica Rochester Gomes, chefe do Departamento de Capital Semente da Financiadora. Das 130 empresas que participaram do Seed Forum até a 11º edição, 18% foram investidas. “É um número excelente. Além disso, mesmo as outras empresas que não foram investidas participaram de capacitações e tiveram a oportunidade de amadurecer”, afirma.

De acordo com David Travesso, presidente da FIR Capital, houve um aumento nos últimos dois anos no número de investidores privados, muitos, inclusive, estrangeiros. “Só agora, há dois anos, o Seed Money vem ganhando força no Brasil e vem fazendo investimentos planejados”, afirma. Entre os motivos, segundo ele, estão o surgimento de negócios interessantes na área de web e os juros mais baixos, que forçam os investidores a aceitar maior risco para obter maior remuneração. “As empresas que não são do ramo da web, no entanto, ainda têm dificuldades em conseguir esse tipo de financiamento”, explica.

A FIR Capital foi fundada em 1999 com o objetivo de investir em empresas nascentes no modelo californiano, mas, em meados da década 2000, passou a dar mais foco a empresas já em expansão. “Não chegamos a deixar de lado o Seed Money, mas tivemos dificuldades para encontrar investidores”, explica Travesso. Há alguns anos, contando com recursos da Finep, a gestora tentou montar quatro fundos de capital semente: em São Carlos, no interior de São Paulo, em Recife (PE), no interior de Minas Gerais e em Florianópolis (SC). “Apenas o de Florianópolis deu certo. Não conseguimos viabilizar os outros por falta de investidores interessados”, explica Travesso. O Fundo Santa Catarina realizará seu quinto e último investimento ainda no primeiro semestre deste ano.

A existência de lacunas na cadeia de capital empreendedor (Veja Box na página 37) é um dos fatores que afeta o desenvolvimento da indústria de Capital Semente no Brasil. “O grande desafio é preencher a cadeia toda. No Brasil, ela está incompleta. Não dá para ficar limitado a um ou outro caso de sucesso”, afirma David Travesso Neto da FIR Capital.

De acordo com ele, há muita possibilidade de investimento na casa dos R$ 100 milhões, mas para valores menores – R$ 15 milhões e R$ 20 milhões, por exemplo – a oferta ainda é restrita. “A curva da indústria de Venture Capital ainda não está montada. Falta sequência no crescimento”, explica.

A primeira etapa da cadeia, que seriam os investidores anjos (em geral, pessoas físicas que fazem investimentos iniciais em projetos), começou a se consolidar na última década. Hoje, existem cinco redes desse tipo de investidor e quatro núcleos regionais da Anjos do Brasil, organização sem fim lucrativos que divulga o investimento anjo pelo país. “A formação da cadeia de capital de risco é extremamente importante. Se não existe esse elo, não há continuidade dos projetos. Muitos podem acabar sendo perdidos”, explica Cassio Spina, fundador da Anjos e autor do livro “Investidor Anjo: guia prático para empreendedores e investidores”.

A solidez da cadeia serve como incentivo para os investidores anjo. “Quando o investidor anjo vê que tem um fundo de Capital Semente, ele se sente mais confortável para atuar. É importante que exista esse continuum”, explica Robert Binder, da Antera. Ele ressalta, também, que quanto mais cedo as empresas são investidas por capital de risco, mais bem estruturadas elas se tornam. “A partir do momento que entra o investidor anjo, você tem o sócio, que já começa a trabalhar na estrutura da empresa”, afirma.

A consolidação do Venture Capital, que seria uma fase posterior à do Capital Semente, também é essencial para o desenvolvimento do Seed Money “O fundo de Capital Semente quer que o fundo de Venture Capital substitua seu investimento, até chegar à bolsa de valores. À medida que isso estiver funcionando, teremos um setor que produzirá novas empresas, as quais vão desenvolver inovações e novos produtos”, explica Binder.

Track Record

Como o Capital Semente ainda é muito novo no Brasil, ainda não existe um track record, ou seja, um histórico de desempenho das empresas investidas por esse tipo de capital. A partir do momento que isso se formar, a tendência é que o Seed Money ganhe impulso. “Quando você investe em semente, investe na fase inicial de alto risco. Você só consegue trazer o capital privado a partir do momento em que as pessoas começam a ser muito bem sucedidas. Como o Brasil não tem o que se chama track record, é difícil de você convencer as pessoas, em um primeiro momento”, afirma Binder.

Segundo ele, esse histórico de sucesso está começando a se formar. Duas empresas do fundo Criatec já foram desinvestidas até agora, por exemplo. A Usix, empresa de TI que atua na área de Seguros, foi a primeira. Ela foi adquirida, em 2010, pela Ebix, líder mundial em soluções para o setor, com sede nos Estados Unidos.“O resultado está sendo bom. Um indício disso é que o Bndes já quer fazer Criatec 2 e 3”, diz. Sinal de que o track record está se formando.

A Cadeia Do Capital Empreendedor
■Família e amigos: os mais comuns financiadores de novos negócios.
■Investidor anjo: Pessoa física (ou jurídica, mas com recursos próprios) que investe em empresas nascentes,
■apoiando empreendedor com conhecimento, experiência e contatos, além de recursos.
■Capital Semente: Primeira camada de investimento acima do investidor anjo. É feito na fase inicial do negócio.
■Venture Capital: Investe em empresas já estabelecidas, mas de pequeno e médio porte e com potencial de crescimento. O investimento financia, principalmente, a expansão desses negócios.
■Private Equity: Empresas de grande porte. Estão em fase de reestruturação, consolidação e/ou expansão de seus negócios.
■Desinvestimento: O momento de saída da empresa é um dos mais importantes. É quando os investidores obtém lucro, ao vender sua participação nas empresas. Pode ocorrer através de venda das participações para outros fundos, aquisição por outra empresa ou por IPO (oferta pública inicial de ações).

Fonte: Abvcap, Anjos do Brasil, Exame, Ig São Paulo

XXII Seminário Nacional Sediará SEED Forum

Uma versão nacional do Seed Forum da Finep vai acontecer durante o XXII Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas e XX Workshop Anprotec, a ser realizado em Foz do Iguaçu (PR), entre os dias 17 e 21 de setembro de 2012. É a primeira vez que o Seed Forum terá uma edição nacional. Até então, os eventos eram regionais e ocorreram, até agora, apenas em oito estados do país, restritos às empresas desses locais.

O Seed Forum Nacional será uma oportunidade para que empresas incubadas e graduadas do país inteiro mostrem o potencial de seus negócios aos investidores. “Nem todas as empresas que participam dos Seed Foruns são incubadas. Essa edição no Seminário vai ser só para empresas incubadas ou graduadas. Vamos aproximar esses empreendedores dos investidores e queremos mostrar que o processo de incubação é capaz de criar empreendimentos inovadores e sólidos”, destaca o chefe do Departamento de Capital Semente da Finep, Rochester Gomes.

A ideia é que a realização do Seed Forum durante o Seminário Nacional também aproxime os investidores do movimento de empreendedorismo inovador. “Queremos trazer os investidores ao evento e fazer com o Seminário faça parte da agenda deles”, afirma Gomes.