Por Marcos Bardagi, Sócio- Diretor da Telos Transition, LEXNET Prestador de Serviços.
Uma nova história para a Liderança
Yuval Harari explica que neste instante do processo evolutivo, nós, os Sapiens, somos uma espécie em busca de uma história. Creio que somos igualmente inúmeras histórias a procura de se tornar “a eleita” pela espécie.
A nova história da liderança é uma delas. Vamos a ela.
Em um mundo onde impera a incerteza não há segurança alguma de que decisões ou estratégias, mesmo que tenham tido sua eficiência comprovada no passado, sejam a garantia de caminhos sólidos e de resultados no presente. Estamos cada vez mais sujeitos ao imponderável, ao imprevisto, aos cisnes negros. Tudo devido ao aumento da complexidade e da aceleração da velocidade de mudança em diversos setores, concomitantemente.
Não há dúvidas de que esta nova realidade traz um ambiente repleto de incertezas, cenário no qual qualquer Líder deve saber navegar. Mas ao mesmo tempo, este Líder não está imune a estes mesmos processos transformadores e sofre as mesmas inquietudes deles derivados. É lícito supor, portanto, que tampouco ele tenha respostas prontas. E então nos deparamos com o cerne da questão, pois do Líder sempre esperamos soluções, respostas, elucidações.
A nova história que anseia nossa aprovação advém do surgimento de um movimento de “Humanização” das organizações, que parece querer questionar o paradigma mainstream da liderança. Ela advoga que o líder deve se mostrar aberto, ouvinte, inclusivo, empático, sem respostas. Em resumo, vulnerável. Sem sombra de dúvida, este perfil não se aproxima do estereótipo do Líder tradicional, que diz que o Líder tudo sabe, que o Líder é uma espécie de Oráculo a quem devemos recorrer submissos e cabisbaixos, rendendo homenagens sempre que possível.
Então, poderia este novo Líder trazer realmente mais confiança e credibilidade e entregar mais resultados para as Organizações neste momento? Afinal, o que entrega o líder ‘vulnerável”?
Atributos usualmente assignados aos líderes sempre foram a excelência na execução, no controle, no atingimento de metas. Coisas tangíveis e mensuráveis. Einstein, no entanto, já observava que “nem tudo que importa pode ser medido”.
Com a ascensão da Inteligência Emocional de Goleman, as relações entre os indivíduos e membros de uma equipe passam a ser um novo fator crítico para a liderança. Os resultados são obtidos através de pessoas e, por consequência, apresentar uma proposta que faça sentido à equipe, é fundamental. Muitos entenderam que o papel da liderança a partir deste novo olhar evoluiu para a construção de uma cultura organizacional servidora, aquela que identifica, entende e administra o impacto de uma organização no ecossistema de negócios no qual interage e do qual interdepende.
Dentro desta lógica, características “soft” assumiram um papel preponderante para o sucesso. O líder passa a ser “servidor”, que antes de liderar, atende aos anseios de todos. Antes de pedir, ele auxilia os membros da equipe na busca de seus objetivos. Ele se coloca em uma posição humilde, desprovida de glamour e de autoridade posicional.
Agora, quando organizações enfrentam a necessidade de produzir mudanças radicais, disruptivas, surge que até mesmo a compaixão emerge como necessária à liderança que pretende ser eficaz. E a compaixão produz seus efeitos quando se converte em ação manifesta, publicamente visível. Compaixão é um estágio superior de empatia. É sentir com o outro. Demonstrar compaixão, essencialmente, é demostrar vulnerabilidade.
Líderes capazes de demostrar compaixão perfilam-se no rol dos líderes vulneráveis. Expõem suas inquietações e medos. São líderes sem máscaras e sem trajes de herói. Outra característica identificada como fundamental é a da capacidade de identificar o caminho para o bem-estar da equipe. Bem-estar este que dará condições para os membros da equipe possam buscar seu pleno potencial, em outras palavras, desenvolver o mindset do crescimento.
O ápice desta nova faceta da liderança seria o entendimento de que o desafio hoje é a própria busca por significado, dar significado ao trabalho de suas equipes, e consequentemente abrir o caminho para a construção de um legado. Busca do pleno potencial, condições para criação do legado, desenvolvimento do mindset de crescimento. Isto é o que este novo Líder entrega. Como?
Ao ser o mais apto para a formação de uma coesão, de uma unidade ele é também um líder mais capaz de proporcionar aquele que o número um no ranking das características dos times de alta performance, segundo a pesquisa do Projeto Aristóteles do Google: A segurança psicológica. Aquele estado em que equipes tem altíssimo grau de confiança e respeito entre si, onde florescem ideias e onde há construção coletiva. Cenário perfeito para ocorrer mais inovação, cenário igualmente ideal para ocorrer mais inclusão e diversidade, condições essenciais para o surgimento do Novo.
Por tudo isso, e na linha da antifragilidade de Taleb, líderes vulneráveis crescem na incerteza, usam e abusam de suas dúvidas para alavancar equipes e negócios. Vulnerabilidade é a maior fortaleza.
Yuval, no que concerne a liderança, que seja esta a história eleita.