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MESMOCRACIA ou DEMOCRACIA

Por: Eduardo Trigueiros.

A representatividade do cidadão deve ser próxima e real. Os governos passam e muito se discute acerca da reforma político-partidária sem que nada seja implementado.

É que quem deve implementar reformas são os cidadãos que tomaram a política como profissão.

Ora, sangue se renova em prol da saúde, assim como a própria vida, com a morte de uns para dar lugar a outros.

Já os partidos políticos funcionam sem dinamismo e com renovação nula ou insignificante em seus quadros. Há décadas sempre os mesmos políticos se apresentam para receber do povo os votos.
É como se a cada refeição se oferecesse sempre os mesmíssimos itens em uma bandeja, com muita festa e pompa, ano após ano, década após década, até ninguém mais achar aquilo uma novidade ou palatável.

Entra eleição, sai eleição e têm-se sempre os mesmos indivíduos e respectivos clubes na bandeja, as mesmas opções, ao ponto da indigestão. As propostas têm aparência nova, mas na realidade são apenas novas formas de se oferecer sem entregar o mesmo: saúde, segurança, educação, habitação e transporte. Promessas sempre postergadas, ou cosmeticamente endereçadas à mídia por meio de ações pontuais de alto impacto televisivo.

Há décadas os mesmos indivíduos se apresentam, ora para um cargo eletivo, ora para outro. Os adversários também não mudam. O executivo não se reelege mais de uma vez, mas para o mesmo cargo, nada impedindo que siga ocupando lugar como única opção em outros cargos públicos, assim impedindo a renovação dos quadros partidários.

Essa mesmice faz com que a política de hoje seja a política do mais do mesmo, dos opositores que de tanto conviverem pensam igual e querem as mesmas coisas. Há paralisia política no país. A situação é de uma política que não é pensada, mas simplesmente combinada.

O acesso a cargos eletivos nos partidos políticos e as prévias comandadas por apadrinhamentos sempre pelos mesmos caciques fazem com que o cidadão comum veja a possibilidade de ingressar na vida pública por meio de uma eleição como algo intangível.

A renovação pífia nos quadros políticos se dá apenas por conta do atrativo midiático circense, em que costureiros engraçados, palhaços e participantes de reality shows conseguem uma vaga em um partido político com o necessário apadrinhamento para, atrás de si, arrastarem os políticos de carreira, caso eleitos, graças ao voto de legenda.

A Democracia supõe o governo perto do povo, do povo e para o povo, com alternância dos condutores dos destinos do país. Foi assim na origem e assim se traduz seu significado. Como esse significado não se pratica no Brasil, o mais próximo disso seria a Mesmocracia, ou o governo dos mesmos,que sempre se apresentam ao povo como única opção eletiva.

O sistema que vige, da Mesmocracia, perpetua os mesmos no poder, oferecendo as mesmas ideias requentadas e adaptadas ao sabor dos ventos, com décadas de decantação das disputas saudáveis que deveriam ocorrer pelos interesses no país, mas que se transformas em uma borra fria no fundo do copo.

Em outras palavras, o que está aí é quase imutável, estabelecendo um sistema de coisas em que muito se fala, mas pouco se faz, porque ninguém quer abrir, em um partido político, a discussão sobre a oferta, para o dócil gado (público) votante, de ideias originais, gente nova, e oposição para valer.

A situação não faz mais pela saúde, educação ou segurança pública porque sabe que a oposição não levará a discussão até a implosão do equilíbrio de forças pernicioso que não interessa ao país. Não existe contundência ou defesa de ideais. A essência da política se traduz equivocadamente em nosso País por composição, onde todos os interesses se acomodam menos o do eleitor, que vota sempre no mesmo A ou B, sem que nunca chegue a vez de votar em seu vizinho.
Política distante, ânimos acomodados, a Mesmocracia reage ao sabor dos ventos na condução do País, mantendo os que produzem ocupados demais a pagar impostos e ganhar a vida, e os demais com instrução e recursos de menos para a prática do discernimento político refletido.

A sugestão é a de que a reeleição de qualquer político, para qualquer que seja o cargo público, possa se dar apenas por uma vez, assim promovendo dinâmica na política nacional, reconstruindo uma oposição real e maior alternância de ideias, que trabalharão em benefício da melhora do Brasil.

As amarras e comprometimentos políticos seriam minimizados, trazendo o interesse pela coisa pública para perto do eleitor, que não seria mais obrigado a demonstrar seu desgosto pelo mesmo através do voto sufocado de protesto que elege caricaturas midiáticas.

Uma lei bem simples, obrigando a renovação pela proibição de mais de uma reeleição para todos os políticos é o quanto deve bastar para fazer o país acordar do marasmo anestésico dos serviços públicos, que faz com que seja esperado que as escolas públicas não funcionem, que a polícia não atenda às ocorrências, que ninguém vá preso, que ninguém se sinta seguro, que o hospital não tenha leitos, remédios aparelhos e médicos, enquanto, paradoxalmente, a CET siga tendo o melhor e mais moderno aparelhamento, com mais e melhores viaturas, radares e pessoal, porque é destinada a nada entregar ao povo, mas nitidamente a mais dele tirar, sugando avidamente os esforços do trabalho diário dos motoristas, chegando-se ao cúmulo de ver por suas câmaras assaltos em tempo real, enquanto a polícia não tem salário, treinamento, vergonha ou ânimo para acorrer ao local.